Minhas atividades profissionais há muito tempo ocupam muito mais tempo do que eu gostaria.
No entanto, elas não são tão onerosas, pois adoro o meu trabalho, principalmente porque sempre aprendo alguma coisa com ele.
Quando tenho algum tempo livre, além de privilegiar a família, gosto de escrever e o faço quase de forma compulsiva.
Com isso, às vezes deixo escapar alguns detalhes importantes da vida.
Porém, ela nos surpreende quando menos esperamos.
Certa vez, no caminho entre um trabalho e outro, no início da noite, um congestionamento me fez começar a observar os arredores: os carros, as luminárias e, um pouco mais acima e milhares de quilômetros distante, a Lua.
Foi como se eu me transportasse até ela, numa saída em astral: um momento de autoconsciência plena do universo, mas que uma outra luz, verde, e os toques de buzinas de veículos me trouxeram de volta à realidade das aulas que eu ia ministrar em instantes.
Na época, escrevi uma crônica sobre isso, para a qual tomei emprestado o título de um filme: “Feitiço da Lua”.
O tempo passou e, por questões de saúde, me recomendaram fazer caminhadas regulares.
As faço normalmente no centro da cidade, observando as edificações históricas, as lojas, os armazéns do porto, os morros e as pessoas. Vario os trajetos, para não cair no enfado de uma obrigação, e sempre encontro um novo detalhe.
Outro dia, em vez de caminhar pelo centro, resolvi caminhar sozinho pela orla da praia, a partir do Canal 7.
Observei do Canal do Estuário, onde um navio graneleiro lentamente partia, as pontes de embarque, os ciclistas, os pedestres, os quiosques, os carros, os clubes… De repente, olhei para o horizonte e vi um cenário que imediatamente me enfeitiçou:
Ao fundo da baía, o sol já havia se posto, mas ainda iluminava o céu com seus derradeiros raios. Parecia que ele atraía as nuvens para si.
Andei mais alguns passos, para tentar registrar aquele cenário mágico com meu celular.
O céu foi generoso comigo!
Seguramente não era o mais belo pôr do sol que já vira. Era um ocaso qualquer, como ocorre todo o dia, mesmo que não o vejamos.
No entanto, por caminhar distraído, aquele momento de súbita atenção foi de uma beleza deslumbrante, difícil de descrever com palavras!
Despretensiosamente, resolvi compartilhar aquela imagem em alguns grupos.
Para minha surpresa, duas confreiras da Academia Santista de Letras, pouco depois, me brindaram com dois lindos haicais, mostrando que aquela imagem era, de fato, inspiradora.
Estar vivo é uma bênção incomensurável, que deve ser aproveitada com todos os sentidos, principalmente em cada simples momento em que temos a exata noção de pertencimento à natureza e ao Universo, sempre dando graças a Deus por tudo isso!
Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro, pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras
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