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Foto: Paulo Pinto/Agencia Brasil

Opiniões

30 DE ABRIL DE 2025

Queremos desaparecer?

José Renato Nalini

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O único animal que sabe que vai morrer é o ser humano.

Porém, é tamanho o medo de enfrentar o desconhecido, que ele prefere fazer de conta que é imortal.

Isso explica a sede de poder, a ganância pelo dinheiro, a preocupação com insignificâncias.

Com o nada diante do mistério da morte.

Uma das provas de que os humanos mutilam a racionalidade de que são dotados é o que fazem com a água.

Essa graça benfazeja que garante a vida – até o corpo humano é composto de mais água do que elementos sólidos – vem sendo fustigada e conspurcada.

A ponto de vir a desaparecer.

Amostras d’água coletadas em rios da Mata Atlântica evidenciam que a sua qualidade caiu de nível.

O percentual de pontos monitorados do bioma classificados com qualidade péssima – a pior da escala – subiu de 2,9% em 2023, para 3,4% nas análises de 2024.

Em 2022, essa taxa era de 1,9%.

Como explicar que o agravamento da saúde da água, essencial para a nossa preservação, resulte em negligência maior, para não dizer omissão dolosa, cumplicidade, conivência e desfaçatez?

A qualidade ruim é hoje 13,8%, enquanto em 2023 era 12,1%.

A maior parte de nossos rios está na condição de qualidade regular: 75,2%, queda de 1,8% em relação a 2023.

Água de qualidade regular não pode ser consumida por animais, inclusive o considerado racional. E o custo do tratamento dela é cada vez maior.

O triste é que na Mata Atlântica, já não existe rio considerado de ótima qualidade.

O que deveria envergonhar a população do Estado mais desenvolvido da República, aquele que concentra a elite brasileira.

Uma população realmente civilizada, antenada com os grandes problemas que a afligem, teria dado um “basta” há muito tempo.

Mas ela continua, em sua imensa maioria, a conviver com a falta de saneamento básico, com o desmatamento, com o sepultamento dos córregos, com a imundície lançada a todos os cursos d’água.

Não resta muito tempo para que o caos se instaure e a falta d’água nos impeça de sobreviver.

Cabe perguntar a todos: “Queremos desaparecer?”.

 

José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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