O que está em jogo na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos | Boqnews
Foto: Alan Santos/PR/Agência Brasil

Opiniões

01 DE AGOSTO DE 2025

O que está em jogo na relação comercial entre Brasil e Estados Unidos

José Velloso

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A decisão recente do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre as importações de diversos produtos brasileiros representa, na prática, um embargo comercial.

No caso do setor de máquinas e equipamentos, que é intensivo em tecnologia e inovação e opera em um ambiente de elevada competição internacional, simplesmente não há margem para absorver esse impacto. Com essa tarifa, o comércio torna-se inviável.

Vale lembrar que os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras de máquinas e equipamentos.

Em 2024, o setor exportou US$ 3,54 bilhões para aquele mercado, o equivalente a 26,9% do total exportado pelo segmento.

Trata-se de uma relação comercial sólida, construída ao longo de décadas e que envolve complementariedade entre cadeias produtivas.

Muitas das máquinas e componentes exportados pelo Brasil são utilizados por indústrias norte-americanas para montagem final ou produção de bens de maior valor agregado.

É uma relação “ganha-ganha” – e que não pode ser rompida de forma unilateral.

É importante destacar que, neste comércio bilateral, o Brasil tem déficit.

No ano passado, importamos dos Estados Unidos US$ 4,7 bilhões em máquinas e equipamentos, frente aos US$ 3,54 bilhões exportados, o que resultou em um saldo negativo de US$ 1,16 bilhão para o nosso país, enquanto que na balança comercial total entre EUA e Brasil, os norte-americanos também tem superavit.

Isso enfraquece o argumento de que haveria um desequilíbrio comercial a ser corrigido por meio de barreiras tarifárias.

Diante desse cenário, a ABIMAQ reconhece e apoia os esforços do governo brasileiro em buscar uma saída pela via diplomática.

Temos plena confiança na capacidade do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, bem como do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em conduzir negociações sérias, firmes e responsáveis.

O melhor caminho, neste momento, é a busca de um acordo que garanta a continuidade da relação comercial e evite prejuízos tanto para empresas brasileiras quanto para as próprias indústrias norte-americanas que dependem de nossos insumos.

Também é fundamental lembrar que há cerca de 3,9 mil empresas americanas com investimentos produtivos no Brasil com o objetivo de exportar seus bens e serviços.

Essas companhias, muitas das quais operam em cadeias binacionais integradas, também serão afetadas por uma tarifa dessa magnitude.

É do interesse mútuo preservar esse ambiente de cooperação econômica.

O setor industrial brasileiro, sobretudo aquele que atua na fronteira da tecnologia como é o caso da indústria de máquinas e equipamentos, já convive com a dura concorrência dos produtos asiáticos, em especial os chineses.

Em 2024, a participação das importações de máquinas e equipamentos da China no Brasil cresceu 20,4%.

E agora, diante da possibilidade de sermos taxados com o dobro da tarifa aplicada à China pelos Estados Unidos, corremos o risco de perder ainda mais espaço.

Por isso, acreditamos que este movimento norte-americano tem componente polítco e deve ser lido como uma tentativa de pressão para iniciar uma negociação sob vantagem.

Se for esse o caso, o Brasil não deve recuar, deve negociar pela diplomacia, entendemos que nãó é hora de retaliar.

Deve propor, com inteligência e firmeza, um acordo comercial que aumente o intercâmbio bilateral e traga previsibilidade para os investimentos e as exportações.

Reafirmamos, portanto, nosso compromisso com o diálogo e com a construção de soluções sustentáveis para o comércio internacional.

O Brasil tem muito a perder com um distanciamento dos Estados Unidos, e os Estados Unidos também têm muito a perder com um rompimento dessa relação histórica.

Se o objetivo é proteger interesses nacionais, que o façamos negociando, e não erguendo barreiras.

 

José Velloso é engenheiro mecânico, administrador de empresas e presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas (SINDIMAQ).

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