Namoro, prática de amar | Boqnews
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Opiniões

12 DE JUNHO DE 2025

Namoro, prática de amar

Marcia Esteves Agostinho

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Dizem que o casamento por amor é recente.

Que os matrimônios, por séculos, foram feitos por interesse, por conveniência, por arranjo.

Será que o amor é um luxo moderno, uma invenção romântica que escapa à razão?

Se o amor fosse apenas um capricho da modernidade, como explicar sua presença teimosa ao longo da história?

Por que ele continua surgindo, mesmo onde não é convidado?

A verdade é que o amor sempre esteve entre nós. E ainda que não fosse a razão principal de muitas uniões no passado, ele surgia com o tempo, com a convivência.

Em culturas onde o casamento é decidido pela família, acredita-se que o amor nasce depois. Isso parece absurdo?

Só se reduzirmos o amor a um arrebatamento súbito e irracional, uma vertigem romântica. Mas o amor é mais complexo.

Erich Fromm, em “A Arte de Amar”, dizia que não existe amor sem razão. Amar é uma arte.

Exige esforço, conhecimento, decisão.

A escolha do parceiro pode até ser por decisão alheia ou por impulso. Mas o ato de amar é pessoal e deliberado.

Amar se aprende. E se pratica. Todos os dias.

Por que amamos? Porque precisamos. O amor nos tira da solidão, nos lança em direção ao outro.

Nele encontramos apoio, partilha, proteção. Amamos porque, sem esse vínculo, não sobreviveríamos – nem como espécie, nem como indivíduos. O amor é uma solução existencial. Ele nos ancora e nos impulsiona.

Fromm chamava esse tipo de amor de “resposta madura ao problema da existência”.

É uma união que respeita a individualidade: um casal pode viver separado, mas vive melhor junto. O amor verdadeiro não anula, potencializa. Faz crescer.

Essa capacidade de amar começa cedo. Crianças aprendem a amar sendo amadas. O amor da mãe é incondicional. Ela ama o filho por ser quem ele é.

O amor do pai é meritocrático. Ele ama à medida que o filho age corretamente. Ambos moldam nossa consciência: um nos dá segurança, o outro nos prepara para o mundo.

O amor romântico maduro é uma síntese desses dois arquétipos. Amamos alguém por quem ele é e também por como ele age no mundo.

É um amor que acolhe e admira. Que cuida e desafia. Que transforma dois estranhos em família. Um tipo de amor que melhora nossas chances de enfrentar o mundo e de criar filhos adaptados a ele.

Ao contrário do amor fraterno ou parental, o amor erótico é exclusivo.

Amamos muitos filhos, muitos amigos, mas só nos fundimos profundamente com uma pessoa. Porque esse amor é total.

É compromisso em todos os aspectos da vida. É união, mas sem anulação.

Neste Dia dos Namorados, vale lembrar: o amor não é só um sentimento. É um exercício constante.

O namoro é um espaço para essa prática. Uma prática que é, ao mesmo tempo, treino e ação.

No namoro decidimos, dia após dia, amar alguém por inteiro.

Assim o amor se fortalece. E nos fortalece também.

 

Marcia Esteves Agostinho é doutora em História e autora do livro “Por que casamos?”

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