Eleito pelos seus pares para comandar a mesa do Senado Federal por mais uma legislatura, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) inicia seu novo mandato desprezando conceitos de austeridade que deveriam pautar sua conduta como presidente da Casa.
Ao assinar ato permitindo a adoção de “licenças compensatórias” para determinados servidores do Senado, que a cada três dias trabalhados passarão a ter direito a uma folga, Alcolumbre desdenha das dificuldades econômicas enfrentadas atualmente pela maior parte da população brasileira.
Isso porque, a medida se revela como um novo “penduricalho” para categorias abastadas do funcionalismo federal, uma vez que os dias de trabalho também poderão ser indenizados, ou seja, acrescidos ao salário dos beneficiários acima do teto do funcionalismo.
Mesmo com a necessidade de o País reduzir gastos para equilibrar as contas públicas e ampliar o atendimento às demandas sociais, o atual presidente do Senado revela total distanciamento da realidade brasileira e mais uma vez abre margem para o questionamento do papel a ser exercido pelos senadores no modelo político e institucional adotado até aqui.
Repete-se mais uma vez os métodos e práticas políticas com desprezo aos valores éticos e morais.
Com isso, mais uma vez fica evidente a necessidade premente de realização de uma ampla reforma política, a partir da revisão dos conceitos que conceberam o sistema vigente, especialmente os que atribuíram a necessidade de supervalorização dos partidos e os que embasaram critérios de proporcionalidade e representatividade.
É hora de reconhecer os equívocos do regime atual, que resultaram no desprezo à ideologia e à fidelidade partidária, favorecendo o surgimento de políticos desvinculados dos ideários programáticos e doutrinas de seus respectivos partidos
Diante deste preocupante cenário de mazela política proliferam apenas os interesses particulares e dos segmentos que buscam dividendos econômicos às custas dos recursos públicos, por meio do estabelecimento de lobbies e do fomento à corrupção.
Consagrado como método eficaz de participação no poder constituído, não há como esperar que as profundas mudanças pretendidas para o regime político brasileiro sejam de iniciativa dos atuais parlamentares.
Sem uma efetiva participação da sociedade civil, mobilizada por meios das associações e entidades de classe, dificilmente será possível alterar o quadro atual.
A participação nos regimes democráticos exige do cidadão muito mais do que somente o exercício do voto, caso se almeje realmente o progresso e as melhorias sociais que eles podem produzir.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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