Estamos a um ano do próximo período eleitoral no Brasil, como as mulheres filiadas a partidos políticos estão se preparando para as votações internas de suas legendas que antecedem os pleitos?
Dados da Justiça Eleitoral (2023) mostram que somos 46,2% das integrantes partidárias no Brasil.
Além disso, das 31 legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apenas cinco são presididas nacionalmente por mulheres, o que representa cerca de 16% do total.
Essa proporção reflete a sub-representação feminina nas lideranças partidárias, apesar de as mulheres constituírem 53% do eleitorado brasileiro.
Embora haja um certo cansaço político, social, familiar, econômico e ambiental, precisamos falar sobre avançar nos espaços de poder – comumente considerados apenas como a conquista de cadeiras nos poderes Legislativo ou Executivo.
Nos últimos anos, na tentativa de contemplar a luta das mulheres por participação política, núcleos de gênero foram criados dentro das instâncias partidárias – espaços que não possuem autonomia para definir orçamento, poder de articulação ou sequer são considerados relevantes para a imprensa.
Um estudo do Instituto Patrícia Galvão(2011) mostrou que apenas 8% das reportagens sobre política citaram mulheres como fontes principais.
A maior parte da cobertura sobre política feminina restringia-se ao período eleitoral, com foco em candidatas majoritárias, não em lideranças internas de partido.
Afinal, sabemos que relevante é quem chancela filiações.
Diante do cenário exposto, paira a dúvida se será ofertado, além das cadeiras temáticas, cargos na estrutura executiva dos diretórios municipais, estaduais e nacionais.
Apesar das fragilidades, os núcleos de gênero, alas femininas e cadeiras com recorte social são necessários, fazem parte das ações para incentivar o envolvimento desse público e devem ser fortalecidos.
Todavia, a inquietação neste momento está na alocação interna das mulheres que compuseram a chapa ou os times de campanha. Onde elas estarão nos próximos anos?
Na mesma posição para “ajudar o partido” ou trabalhando para o candidato favorito? Seria muita utopia empoderá-las com cargos de destaque e desafios políticos que convidem essa filiada a expressar novas competências?
Sabemos que boas articuladoras políticas se formam fazendo parte do processo, não apartadas dele.
É momento de alçar voo buscando as cadeiras gerais mais consideráveis, aquelas que as colocam em evidência interna e externa, como são as cadeiras de presidente, vice-presidente, tesoureira e secretária-geral.
O desenho da eleição de 2028 começa no rascunho do pleito que a antecede.
Portanto, as decisões de agora nortearão os caminhos: se as mulheres partidárias estarão escanteadas daqui a 3 anos ou se serão as próximas articuladoras, líderes ou representantes do povo .
É uma questão de escolha. Antes que perguntem: quem escolhe o futuro é quem chancela filiações.
Antes que reclamem, dizendo que as suas filiadas não fazem por merecer, não demonstram confiança, não buscam esse espaço, aproveito para lembrar: bons líderes são excelentes formadores de novos líderes.
Partido que cumpre sua função social vai além da representação eleitoral, formando sua base de membros e simpatizantes.
É fato que, na próxima eleição municipal, continuaremos ouvindo que “as mulheres não gostam de política”- caso não sejam proporcionados espaços adequados e dignos de crescimento para que elas desenvolvam o pensamento político-eleitoral que todo partido precisa.
Concluo reescrevendo o início deste texto, como os líderes partidários estão preparando suas filiadas para as eleições municipais internas de suas legendas?
Hanna Pereira é consultora político-eleitoral, mentora e coordenadora de campanha. Também atua como educadora cívica com mais de 900 e-books vendidos e 300 lideranças formadas no Brasil. Foi idealizadora do Movimento Elas na Política na Baixada Santista. Contribuiu em campanhas federais, estaduais e municipais, elegendo prefeito e vereadores.
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