Com a aproximação do verão, período de maior exposição solar, a Secretaria de Saúde de Santos realizou, no sábado (6), uma ação de busca ativa para prevenção e diagnóstico precoce do câncer labial entre ambulantes que atuam na orla da cidade. Mais de 100 trabalhadores foram abordados durante a iniciativa, realizada na faixa de areia da praia, entre os canais 1 e 6.
Sendo assim, deste total, cerca de 25% foram encaminhados para avaliação especializada na van odontológica.
Além disso, a ação teve como ponto de encontro a Concha Acústica e contou com a participação de profissionais da Coordenadoria de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde, além de estudantes do curso de Odontologia da Universidade Santo Amaro (Unisa).
Desse modo, durante a abordagem, os ambulantes foram entrevistados, receberam orientações sobre proteção solar e autoexame dos lábios, além de material informativo e protetor labial.
Ação
A van odontológica da Prefeitura de Santos esteve estacionada no local com equipes da Seção de Atendimento à Rede e Prevenção em Saúde Bucal (Seaprev). Os trabalhadores que apresentaram alterações ou suspeitas de lesões labiais puderam realizar exames de diagnóstico no próprio local e iniciar o tratamento imediatamente ou foram encaminhados para atendimento posterior na rede municipal.
A campanha, que chegou à sua quarta edição, surgiu da identificação de um público em situação de maior vulnerabilidade: os ambulantes que trabalham diariamente sob exposição direta ao sol. Muitos deles têm dificuldade de acesso aos serviços de saúde devido à incompatibilidade de horários, já que a rotina de trabalho costuma se estender até o pôr do sol. De acordo com o idealizador da campanha, o cirurgião-dentista Caio Roman, a iniciativa evoluiu ao longo dos anos. “No início, o foco era levar informação e orientação. Hoje, já conseguimos avançar para o rastreamento dos casos, identificar quem ainda não adotou medidas protetivas e reforçar essas orientações. Nos casos de alterações labiais, os ambulantes foram encaminhados para tratamento no Centro de Especialidades da Prefeitura”.
Desafios
Um dos desafios enfrentados é a evasão no acompanhamento dos casos. Na edição anterior, 60 ambulantes foram encaminhados para avaliação clínica, mas apenas 19 compareceram, mesmo após tentativas de contato. Por isso, segundo o especialista, tornar a campanha contínua e periódica é fundamental para ampliar a conscientização e evitar diagnósticos tardios. As alterações labiais costumam evoluir de forma silenciosa e indolor. Os sintomas mais comuns incluem edema, sensação de queimação, rachaduras e endurecimento nos lábios, sinais que muitas vezes são ignorados inicialmente.
Quando o diagnóstico ocorre tardiamente, o tratamento pode exigir procedimentos cirúrgicos mais invasivos e afastamento do trabalho, gerando impacto social e econômico. Além da prevenção, a campanha também cumpre um papel importante no levantamento epidemiológico. Os dados coletados são analisados pelo departamento de pós-graduação da Universidade Santo Amaro, permitindo identificar padrões de risco. Estudos apontam que a maioria dos ambulantes com alterações labiais é composta por fumantes, consumidores frequentes de bebida alcoólica e pessoas com higiene bucal inadequada.
“O acompanhamento dos dados mostra que, além da proteção solar, é fundamental reforçar a orientação em saúde bucal como um todo. Essa parceria entre a universidade e a Prefeitura, mantida há quatro anos, é decisiva para o sucesso da campanha”, destacou Caio Roman. O coordenador de Saúde Bucal da Secretaria de Saúde de Santos, Bruno Quiqueto, reforçou o alerta à população. “É importante que todos estejam atentos a qualquer alteração labial, como endurecimento, esbranquiçamento ou feridas que não cicatrizam. Essas lesões são mais comuns no lábio inferior, especialmente em homens com mais de 40 anos, e estão associadas ao tabagismo, etilismo e, principalmente, à exposição solar. A combinação desses fatores aumenta significativamente o risco”.
Nova Vida
Desse modo, um exemplo do impacto positivo da campanha é o ambulante Marcio Alves, sorveteiro há 25 anos e presença constante nas praias de Santos. Trabalhador exposto diariamente ao sol por longas jornadas, Marcio foi diagnosticado com uma alteração labial durante a edição anterior da campanha, identificação que mudou completamente o rumo de sua saúde.
Após o diagnóstico precoce, ele iniciou imediatamente o acompanhamento na rede municipal de saúde, passou por exames clínicos detalhados e deu sequência a um processo completo de tratamento e reabilitação bucal. O cuidado incluiu todas as etapas necessárias até a recuperação funcional e estética, culminando na colocação de uma prótese, que devolveu qualidade de vida e autoestima ao trabalhador. “Essa campanha é maravilhosa. De um simples problema no lábio, que eu nem imaginava que poderia ser algo sério, hoje estou mais saudável e consegui um novo sorriso. Fui muito bem atendido em todas as etapas do tratamento. Que venham muitas outras edições, para ajudar mais pessoas como eu”.
Sinais e fatores de risco
Portanto, o câncer labial geralmente não apresenta sintomas em sua fase inicial, o que reforça a importância da observação e do diagnóstico precoce. Entre os principais sinais de alerta estão feridas ou úlceras que não cicatrizam em 15 a 20 dias; manchas brancas ou avermelhadas nos lábios ou na boca; inchaço, nódulos, dormência ou formigamento; dificuldade para abrir a boca, mover a língua, engolir ou falar.
Dessa maneira, a exposição solar sem proteção adequada é o principal fator de risco para o câncer labial.
Portanto, o uso de tabaco e álcool, a má higiene bucal e uma dieta pobre em nutrientes também contribuem para o desenvolvimento da doença.
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