Localizada em Cubatão, no litoral de São Paulo, a Escola Estadual Parque dos Sonhos se destaca como um exemplo de excelência educacional. Para ter noção, recentemente, a escola venceu o Prêmio Melhor Escola do Mundo 2025 (World’s Best School Prize), da T4 Education. O prêmio será entregue nos dias 15/16 de novembro, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. A unidade de ensino conquistou o prêmio na categoria “Superação de Adversidades” e deixou no passado um histórico de invasões e o apelido de ‘Escola Parque dos Pesadelos’.
Nos últimos anos, após a implantação de uma série de atividades focadas no desenvolvimento dos estudantes, a unidade pública estadual de ensino aumentou em 500% o número de matrículas (eram 116 há uma década). O anúncio da premiação foi acompanhado pelos 536 estudantes da unidade, pais e responsáveis, por professores e toda a equipe escolar, e pelo secretário da Educação do Estado de São Paulo, Renato Feder.
Parque dos Sonhos
A escola chegou à premiação a partir de um projeto de acolhimento, conexão e cultura de paz dos estudantes, moradores de uma área de vulnerabilidade em Cubatão, e a superação de episódios de violência, com foco no aprendizado e 23 projetos complementares, como a patinação artística, caratê e outros.
Durante a premiação, o secretário anunciou ainda a climatização da escola e expansão dos ciclos de ensino. A Melhor Escola do Mundo passará a oferecer classes do Ensino Médio, o que deve garantir a permanência de muitos que hoje estão matriculados na escola Parque dos Sonhos. A ampliação das turmas era um sonho do diretor Régis Marques. “Agora poderemos formar cidadãos durante toda a educação básica”, comemora o diretor.
Importância do prêmio
Para o diretor da escola, Régis Marques, o prêmio representa um pouco do sentimento de dever cumprido, de entender realmente que a escola pode participar da transformação da vida dos estudantes, de uma comunidade, porque eles não estão transformando apenas os alunos, mas uma comunidade inteira que está ao redor da escola. Ele chegou ao local em 2016, ao passar no concurso público. Deixou um cargo na rede privada na Capital paulista e subia e descia pela Imigrantes/Anchieta todos os dias.
“Antes, a escola estava em um estado muito difícil. A autoestima dos alunos e dos professores estava lá embaixo. A escola tinha evasão, invasão. Nós tínhamos esse problema e todo o processo foi buscando transformar isso. Mudar isso com um olhar mais humano, se colocando no lugar da pessoa, tendo essa ideia de empatia. Hoje, os alunos conhecem o termo empatia”.
Quem concorda é a professora Solange Martins. Ela lembra que a mudança foi um processo lento. Solange entrou em 2015 na escola. “Os alunos eles tinham uma autoestima muito baixa. Então, a gente foi trabalhando isso, o acolhimento. A comunidade também nos abraçou. Os professores se uniram para fazer um trabalho coletivo com os alunos. Nós passamos a implantar na cabecinha deles o sonho de que eles podiam chegar a ser médicos, engenheiros, arquitetos, que eles podiam sonhar alto. Graças a Deus, hoje nós temos alunos bem-sucedidos”.
Projetos
O diretor também comenta sobre como os projetos ajudam no desenvolvimento e na mentalidade dos alunos. “Hoje, o Parque dos Sonhos tem 23 projetos esportivos, sociais, culturais. E eles significam experimentação. Então, os alunos podem experimentar. Se um que estava no vôlei não gostou, pode ir para patinação. Não gostou da patinação, foi para o jornal” (a escola mantém publicação impressa).
“Porque é a fase da adolescência, que ele ainda não sabe o que quer, conforme ele vai se conhecendo, vai vendo onde ele está, o que quer fazer. E buscamos dar essa liberdade de experimentação para os alunos”, informa Marques.
Ele acrescenta que gostaria que tivesse mais projetos, como surfe, alpinismo, paraquedismo, por exemplo. “E os projetos servem para o aluno conseguir se imaginar no futuro, conseguir se ver enquanto ser humano de verdade”.
Ensino Médio
Sobre a expansão para o ensino médio, a professora cita que era algo que nem imaginava. “Quando eu entrei no Parque era algo que não passava pela minha cabeça. Quando o Régis chegou à escola, ele sempre teve esse sonho de unir as duas escolas. E eu falava, ‘nossa, o Regis sonha demais’. Mas agora, com o passar do tempo, eu vi que é possível e o sonho dele e de vários professores, da equipe gestora vai se tornar realidade e o aluno vai entrar lá nos anos iniciais, onde começaremos a fazer um trabalho com eles, um projeto de vida deles até o Ensino Médio e quem sabe dali para uma universidade. É nosso sonho”.
Já o diretor menciona que ter o Ensino Médio será um novo desafio, porque a escola vai trabalhar com jovens e normalmente nessa fase é a que eles menos pensam no que eles querem fazer, pois vão se desmotivando da escola, porque quando eles eram menores, eles pensavam ‘eu quero isso, eu quero aquilo’. Ele cita que hoje a escola percebe que quando os alunos saem do 9° ano perdem o contato.
“O Ensino Médio foi o pedido que eu fiz para o secretário quando nós tivemos a reunião com o pessoal da Inglaterra (da T4 Education, patrocinadora do prêmio). Eles perguntaram para mim, ‘por que você se inscreveu nesse prêmio?’ Eu disse porque agora eu quero Ensino Médio. Aí o secretário estadual que estava do meu lado, olhou e disse ‘você vai ter Ensino Médio’. Ele prometeu, então é dívida”, brinca o diretor.
Ele diz que a ideia da escola é incentivar para que esses alunos façam uma faculdade. “Falei para eles: vocês vão fazer faculdade, porque queremos formar líderes”.
Próximos passos
Contudo, eles também comentam sobre os próximos passos que a escola planeja e como esse reconhecimento mundial servirá para expandir esses resultados.
“Esse prêmio representa uma forma de influência, que agora o Parque vai influenciar de verdade, né? Não só a educação estadual paulista, mas queremos influenciar o Brasil e em novembro, influenciar o mundo também. Nessa questão da não-violência, da convivência, de olhar o aluno como um ser humano (ele é defensor da filosofia Humanista), como uma pessoa que tem um nome, que tem um reconhecimento, que tem uma cultura, que tem uma história. Quando fizemos a inscrição para essa premiação, foi justamente para isso. Para poder ter voz e influenciar”, diz o diretor.
Assim, é importante a responsabilidade de manter e ampliar os projetos também. Além do Ensino Médio, a escola também terá mais atividades esportivas e culturais para que todos possam participar.
Na visão da professora Solange, com esse prêmio, os pais passaram a confiar mais na escola. “Inclusive, houve aluno que quis estudar no Parque dos Sonhos, porque com a premiação, a escola está na mídia. As pessoas pensam, essa escola que é a melhor do mundo? E ela está servindo de exemplo para outras escolas”, comenta a docente, que mesmo aposentada, resolveu voltar a lecionar e ser tutora de alunos que têm na escola a real forma de mudança de suas vidas e de suas famílias.
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