O futuro em ‘spoiler’ | Boqnews

Opiniões

25 DE AGOSTO DE 2025

O futuro em ‘spoiler’

Alessandro Lopes

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

A Baixada Santista é uma malha de cidades que compartilham destino.

Nove municípios, nove vozes, uma só respiração entre o mar e a serra. Cada anúncio cai como maré: ora enche de esperança, ora recua e deixa rastros de incerteza.

No horizonte de 2030, projetos se erguem como ondas que se chocam. A terceira pista desafia a montanha. O aeroporto do Guarujá acena ao turismo e à logística.

O VLT sonha em expandir-se, costurando bairros e periferias. O trem São Paulo–Santos ressurge como elo antigo entre planalto e mar.

Fala-se ainda em barreiras contra a fúria das águas, em pedágios metropolitanos e em um Terminal de Passageiros na Praia Grande.

Não são apenas promessas: são encruzilhadas que moldam a vida de todos.

No centro do tabuleiro, três movimentos concentram atenções: o túnel até o Guarujá, o Terminal de Passageiros migrando ao Valongo e a expansão portuária.

Obras que reverberam além da ilha, impactando a região que depende do porto, respira no turismo e enfrenta as mesmas filas. Nomeá-las não é repetir manchetes, mas revelar como a soma de expectativas pode ser também a soma de riscos.

Se tudo se cumprir, a Baixada poderá ser metrópole anfíbia, conectada e cosmopolita. Mas como absorver tantas transformações sem ferir o tecido social e ambiental? Caminhões parados na serra significam prejuízos em milhões.

O aumento populacional multiplica veículos e pressiona a paciência coletiva. O perigo é que a intolerância ocupe o espaço que deveria ser do planejamento.

Não basta falar em Cidade Inteligente sem antes cultivar uma Inteligência Urbana: consciência de que progresso é mais que tecnologia, respeito aos limites da natureza, atenção às pessoas que habitam cada rua. E, sobretudo, cuidado com a memória.

Não há inteligência quando ícones como o Escolástica Rosa e o Educandário Santista definham no esquecimento, ou quando o histórico Cesário Bastos ameaça seguir o mesmo destino.

Preservar não é só dever público, mas pacto comunitário. Inteligência Urbana não é rótulo, é escolha ética: fusão entre cálculo e compaixão, entre estatística e rosto humano, entre futuro e passado.

Talvez seja hora de lembrarmos o que já provamos ser possível: coordenar esforços, atravessar fronteiras institucionais e unir governos, universidades, setor privado e comunidades. A utopia não é ilusão, é bússola.

O desafio não está nos projetos em si, mas no improviso. Já temos o spoiler do futuro.

Por que esperar para remendar, quando podemos plantar agora? Mobilidade integrada, proteção ambiental e habitação digna são sementes urgentes.

Porque o futuro não precisa chegar tropeçando. Ele pode florescer enraizado, sustentado por escolhas conscientes e compartilhadas.

Entre o mar e a serra, ainda temos tempo de decidir se seremos passageiros da pressa ou jardineiros de possibilidades.

 

Alessandro Lopes é arquiteto, mestre em Direito Ambiental e pesquisador em Cidades Criativas e Inteligentes

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.