Deputados de luxo: a maior conta parlamentar entre as democracias ocidentais | Boqnews

Opiniões

10 DE JULHO DE 2025

Deputados de luxo: a maior conta parlamentar entre as democracias ocidentais

Cláudio Gonçalves dos Santos

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

O custo de manter um parlamentar no Brasil ultrapassa os R$ 3 milhões por ano — valor que coloca o país no topo do ranking entre as democracias ocidentais quando o assunto é gasto com deputados e senadores.

A cifra, que combina salário, verbas de gabinete, auxílio-moradia, cota parlamentar e outros benefícios, é mais que o triplo do custo de um congressista nos Estados Unidos e supera, com folga, o de países como Alemanha, França e Reino Unido.

A comparação internacional revela um contraste preocupante entre o peso fiscal do Legislativo brasileiro e sua produtividade.

Em países desenvolvidos, os salários parlamentares são altos, mas os gastos indiretos são controlados, centralizados e submetidos a regras claras.

No Brasil, o modelo é pulverizado, generoso e pouco eficiente — tanto do ponto de vista orçamentário quanto institucional.

Quanto custa um deputado? A remuneração base de um deputado federal no Brasil é de R$ 46,3 mil por mês.

A esse valor somam-se verbas mensais como a cota para o exercício da atividade parlamentar (cerca de R$ 45 mil), a verba de gabinete (R$ 125 mil), auxílio-moradia (R$ 4,2 mil) e outras despesas. Com isso, cada parlamentar custa ao contribuinte cerca de R$ 273 mil por mês, ou R$ 3,2 milhões por ano.

Veja como esse valor se compara a outros países. Custo Anual por Parlamentar (valores convertidos em reais, com câmbio de junho/2025):

  • Brasil – R$ 3.276.394
  • EUA – R$ 900.000
  • Reino Unido – R$ 1.982.204
  • Alemanha – R$ 1.260.000
  • França – R$ 1.579.920

Nos Estados Unidos, o salário de um congressista é fixo desde 2009: US$ 174 mil por ano.

Não há repasses diretos de verba de gabinete ou cotas parlamentares; os custos operacionais são pagos diretamente pelo órgão legislativo.

Já no Reino Unido, as chamadas “allowances” (verbas) são generosas, mas regulamentadas — e todos os gastos são publicados online, item por item.

Alemanha e França operam sistemas ainda mais rígidos, nos quais as despesas são centralizadas e o parlamentar não recebe o dinheiro diretamente.

Um modelo caro e desigual.

A estrutura atual do Congresso Nacional impõe um peso elevado ao orçamento público.

Somando os 513 deputados e 81 senadores, estima-se que o custo total anual supere R$ 1,9 bilhão.

Em um país com profunda desigualdade social, déficit fiscal persistente e serviços públicos precários, essa conta parece desproporcional — e politicamente insustentável.

Mais do que cortar salários, a solução passa por redesenhar o sistema de benefícios e verbas.

É preciso estabelecer tetos nacionais unificados, criar regras mais rígidas para contratação de assessores e promover maior transparência nos gastos, nos moldes do que fazem as democracias europeias.

O Parlamento é uma instituição essencial da democracia. Mas, como toda instituição pública, deve funcionar com racionalidade, austeridade e responsabilidade.

Manter privilégios desconectados da realidade do país é deslegitimar o próprio sistema democrático.

O Brasil precisa debater com seriedade o custo da representação política — e ajustá-lo aos padrões de eficiência e decência exigidos pela sociedade.

 

Cláudio Gonçalves dos Santos é economista, mestre em administração financeira e contabilidade, MBA em finanças de empresas, Gestor de Valores Mobiliários com registro na CVM, Conselheiro de Administração, Professor Universitário em cursos de pós-graduação da FECAP/SP. Sócio da Planning, onde atua com Assessoria Financeira, Avaliação de Empresas (Valuation) e Wealth Management.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.