A segunda edição do SP Offshore movimentou o Santos Convention Center nesta quarta-feira (25), reunindo mais de 1.300 participantes entre especialistas, representantes da indústria e autoridades públicas. O encontro consolidou a importância de São Paulo no cenário energético nacional e aprofundou discussões sobre temas estratégicos como licenciamento ambiental, gás natural e inovação tecnológica.
No centro dos debates esteve a modernização do processo de licenciamento ambiental, considerado um dos principais entraves para o setor. Francisco Bulhões, gerente-executivo de Relações Institucionais da PRIO, ressaltou que a falta de uma legislação federal consolidada dificulta a previsibilidade dos investimentos. “Desde 1981 convivemos com portarias que deixam brechas. Quem investe alto precisa de segurança jurídica e prazos claros”, pontuou.
O mesmo foi defendido por Rafael Lyrio, coordenador do Comitê de Desenvolvimento do Offshore Paulista (CDOP). Para ele, é essencial harmonizar legislações federais, estaduais e municipais para evitar conflitos e criar um ambiente mais estável. Rafael Torres, da ABS, reforçou a necessidade de incluir o setor produtivo nos debates regulatórios: “Faltam diálogo e previsibilidade para que possamos planejar com segurança”.
Gás natural: potencial ainda limitado
O mercado de gás natural foi outro foco das discussões. Felipe Matoso, da Petrobras, destacou que, apesar do potencial, o setor ainda enfrenta custos elevados e baixa escala. Mario Zanini, da Hoegh LNG, completou: “Temos um mercado restrito e um gás caro”.
A consultora da EIC, Diana Obermüller, trouxe uma projeção: a demanda por gás natural deve crescer 3,5% ao ano até 2034, mas o avanço depende diretamente de regras claras e estáveis. Em São Paulo, as condições são mais promissoras: com mais de 4 mil km de gasodutos, o estado oferece vantagens logísticas, como lembrou Marcelo Alfadrique, da EPE.
Já Marisa Barros, subsecretária estadual de Energia e Mineração, destacou o protagonismo paulista na produção de biometano. “Temos 60% da matriz energética baseada em renováveis. O potencial do biometano aqui chega a 6,4 milhões de m³/dia”, revelou. Ela ainda citou políticas públicas como isenção de IPVA para veículos pesados a gás natural e a regulação estadual do setor.
Inovação transforma o setor offshore
A transformação digital também ganhou espaço no SP Offshore. Antônio Carvalho, da ABB, apresentou avanços em automação e inteligência artificial, que já permitem reduzir em até 40% a presença humana em plataformas, com sistemas ajustando variáveis em tempo real.
Lauro Puppim, da Saipem, destacou o desenvolvimento de um veículo submarino autônomo com tecnologia brasileira, hoje utilizado em operações no exterior. “Exportar inovação feita aqui é motivo de orgulho”, afirmou.
Rodrigo Chamusca, da Ocyan/Nexio, apontou que o setor caminha para fortalecer a inovação aberta em parceria com universidades e startups. O distrito tecnológico do Senai-SP já emprega mais de 500 profissionais e gerencia uma carteira de R$ 600 milhões em projetos.
Andrea Pontual Weydmann, do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), reforçou a liderança de São Paulo na inovação nacional. “Temos mais de 200 contratos de pesquisa, mas ainda é um desafio transformar ciência em produto de mercado”. Para enfrentar o chamado “vale da morte” da inovação, a Petrobras e o BNDES lançaram um fundo de R$ 500 milhões voltado a startups do setor.

Fernanda Gomes – diretora do BRENC / Foto: Carla Oliveira
Estado de SP se consolida como polo estratégico
O evento também marcou a assinatura de dois documentos importantes: um memorando de entendimento entre Petrobras, governo estadual, InvestSP e o Brazilian Energy Council (Brenc); e o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) que abre caminho para o leilão do Porto de São Sebastião. A meta é estabelecer uma nova base de apoio marítimo no litoral norte paulista, consolidando o estado como um hub offshore estratégico.
O crescimento do evento chamou atenção: o público quase dobrou em relação à edição anterior. Para Fernanda Gomes, diretora do Brenc, o aumento reflete o momento do mercado. “Tivemos leilões relevantes recentemente, e há campos que só poderão ser atendidos pela estrutura de São Paulo. O setor está atento e quer crescer”, concluiu.